Quero começar por dizer que estas dicas são
apenas conselhos e não podem ser aplicadas universalmente. Ainda assim, penso ser
importante partilhar experiências e trocar ideias para que haja mais clareza em
todo o processo da edição. Eu sinto o processo desta forma, se alguém o sentir diversamente que partilhe e comente.
Dito isto, como proceder para publicar um livro
em Portugal? Vamos por passos:
1)
Escrever um original. Obviamente
terão de começar pelo início e escrever um livro. Para esta fase, dois
conselhos: originalidade e enquadramento. Mais do que uma história fantástica
ou um enredo de perder a cabeça, um bom livro tem de refletir o escritor e o
seu estilo próprio de escrita, estar enquadrado na sua obra. A não ser que
queiram escrever literatura de algibeira e romances infindáveis sobre a
mediocridade do nada e a essência do vazio, encontrem o vosso estilo de
escrita, desenvolvam-no e expliquem-no. Os leitores gostam de se identificar
com o autor e a sua escrita e o editor irá valorizar esse aspeto acima de tudo.
Não vale de nada escrever uma ótima história que não passa de uma imitação de
outros livros já existentes e acreditem, existem milhares de livros por aí. Um
bom escritor é aquele que tem uma personalidade forte e declarada e orienta a
sua escrita nesse sentido. Acreditem, esta é a parte mais fácil...
2)
Produzir conteúdos. Hoje em dia,
todos somos inundados com os mais diversos conteúdos. São milhares e vêm de
inúmeras fontes. A expansão das tecnologias de informação alargou o leque de
meios que temos para comunicar e para comunicarem connosco. Desde o tradicional
outdoor ou a normal revista mensal
até aos tablets e redes sociais, os
conteúdos produzidos e partilhados são quase infinitos. Este aspeto é
extremamente importante. É preciso compreender que os leitores estão
constantemente expostos a esta infindável informação e tendem a perder o seu
foco e atenção. O autor tem de conseguir controlar esta variável e jogá-la a
seu favor. Nos dias que correm, o autor tem de concorrer nesta competição
diária por visualizações ou gostos no Facebook.
É fundamental criar e manter uma presença on-line
com um perfil nas redes sociais, um blogue ou um site. O mais importante é ir produzindo conteúdos que cheguem
facilmente e diretamente ao público para que as pessoas não se esqueçam do
autor e do seu trabalho.
3)
Divulgar o seu trabalho. Quantos
livros existem no mundo? Multipliquem por 100 ou até por 1000 e terão a
quantidade aproximada de novos escritores, novos originais, novos textos que
são produzidos todos os meses. É demasiada informação, demasiada produção. Isto
acontece porque escrever um livro não é difícil, difícil é promovê-lo no meio
de tantos outros. É fundamental que as pessoas leiam o livro. Em caso
contrário, será apenas mais um desses milhares de originais que ficam perdidos
algures entre a gaveta e a livraria. Mais uma vez, redes sociais, blogues e sites são ótimas ferramentas mas não são
suficientes. Apesar do avanço nas tecnologias, ainda vivemos no mundo real e
devemos sempre privilegiar o contacto interpessoal pois os nossos leitores são
pessoas e são eles que fazem o nosso sucesso. Sessões de leitura em cafés,
livrarias ou bibliotecas são ótimas estratégias.
4)
Promover a sua imagem. Vivemos no
mundo das marcas, a edição não é diferente. Não basta ser publicado por uma
editora de sucesso, proprietária de uma marca consolidada. O autor tem de
cultivar uma marca própria e criar interesse em torno da sua pessoa. Só assim
se tornará próximo o suficiente dos leitores para que a sua obra seja lida,
relida, comentada e emprestada diariamente. Um autor excelente com livros
maravilhosos não vale de nada se não tiver uma presença constante e consistente
junto dos seus leitores.
5)
Pesquisar sobre as editoras nacionais. Só
depois de tudo isto estar feito ou pelo menos encaminhado é que o autor deverá
procurar uma editora para publicar o seu original. Lembrem-se que as editoras
são empresas à procura de lucro, nenhum editor irá publicar o trabalho de um
desconhecido. Mostrar trabalho feito e alguma base de seguidores já constituída
é meio caminho andado no sentido da publicação. Neste passo, o autor deve
selecionar as editoras para as quais irá enviar o original. Para além de ser
uma perda de tempo, será também um erro enviar o original para todos os
contactos que encontrar. As editoras funcionam através de linhas editoriais,
planos estratégicos que guiam as escolhas dos editores. O autor tem aqui um
importante trabalho de pesquisa e seleção para encontrar as editoras cuja linha
editorial seja adequada ao seu livro.
6)
Procurar os contactos diretos do editor ou do assistente. Chegámos à parte complicada! Esta é a fase crucial de
todo o processo. Esqueçam a qualidade da escrita ou a brilhante abordagem à
narrativa, nada disso importa sem os contactos certos que possam tirar o livro
da gaveta. Imaginem uma caixa de correio eletrónico que todos os dias recebe e-mails de novos autores com excelentes
originais de 100 ou 200 páginas cada um. Se a isso juntar-mos a deficiente
engenharia empresarial das editoras que não está desenhada para dar uma
resposta eficaz a esta característica específica deste negócio, temos a receita
para que 90% dos novos livros não sejam sequer lidos por um editor. Se querem
mesmo publicar um livro, o meu conselho é darem tudo por tudo para encontrar o
contacto direto de um editor ou do seu assistente. Fujam dos e-mails gerais!
7)
Elaborar uma carta de apresentação e uma sinopse do livro. Livros há muitos e, geralmente, tendem a ser
compridos. Um editor tem várias ocupações profissionais para além da leitura de
originais e só irá ler aqueles que lhe chamarem a atenção. A melhor maneira
para conseguir este feito é através de uma carta de apresentação e uma sinopse
do livro. A carta de apresentação deve dar a conhecer o autor de forma breve e
focar os aspetos mais relevantes do seu percurso. Não enviem currículos
detalhados com todos os cursos e formações que fizeram. A ideia é
apresentarem-se, demonstrar que têm valor como escritores e como comunicadores,
cativarem o editor... A sinopse deve apresentar o livro, resumindo-o ao
essencial e focando a principal linha de pensamento da obra, evitem contar a
história do livro ou escrever um resumo do mesmo. É apenas uma apresentação.
Estes dois anexos que devem ser enviados com o original são absolutamente
fundamentais pois irão apresentar o autor e a obra e determinar se o livro
chega sequer a ser avaliado pelo editor.
8) Abordar o editor. Já expliquei aqui, em crónicas anteriores, que o editor é um responsável de uma empresa que procura receitas e lucros. Neste sentido, a abordagem ao editor deve evitar sentimentalismos e objetivos irrealistas. "Vou ser o próximo Saramago!", "Este livro é um Nobel garantido", abordagens deste tipo devem ser evitadas. Deve-se explicar concisamente os objetivos e apresentar resultados preliminares concretos. Um bom editor prezará a consciência da realidade do autor que está a avaliar e premiará projetos consistentes acima de livros ocasionais. O autor deve tentar, sempre que possível, agendar uma reunião pessoal com o editor para que seja mais fácil explicar tudo isto.
9) Apresentar o livro. Imaginemos que conseguiram a tão desejada publicação: o trabalho acabou de começar... Claro que o livro já está publicado mas as cópias não vão voar sozinhas das prateleiras das livrarias. O trabalho do autor ainda não acabou! O marketing das editoras portuguesas é muito mau e insuficiente. Se querem que o vosso livro se torne num best-seller têm de fazer pela vida e levá-lo até ao grande público. Divulgação, conferências, palestras, entrevistas, artigos, comunicados de imprensa, sessões de autógrafos, sessões de leitura, apresentações em bibliotecas, livrarias, feiras do livro... Há muito trabalho a fazer e, aqui, as possibilidades são imensas. Lembrem-se: são as pessoas que leem o vosso livro e que o compram. São as pessoas que criam os escritores de sucesso. Saiam para a rua e falem com essas pessoas.
10) O futuro. Parabéns! Agora são escritores publicados e até já venderam algumas cópias. Desenganem-se, não são ninguém... Ainda ninguém vos conhece, ainda ninguém respeita a vossa opinião, a vossa escrita. Escritores publicados há milhares, escritores lidos e respeitados há meia dúzia. A melhor forma de continuarem a construir a vossa carreira no mundo da escrita é continuarem a escrever, a produzir. O ideal é que o público se vá gradualmente habituando à vossa presença e à vossa escrita. Continuem com o blogue e não desistam das redes sociais. O ideal é conseguir uma crónica ou um espaço qualquer numa revista ou num jornal. Escrever, escrever, escrever. Não deixem passar mais de um ano até lançarem o segundo livro e depois é só encontrarem o vosso ritmo. O mais importante é não caírem no esquecimento..
Olá,
ResponderEliminarestive a ler a tua pagina e não concordo com a parte final. e passo a explicar, um autor jamais deve ter pressa de editar, isso pode e quase sempre prejudica a sua obra. deve existir um espaço entre um e outra edição.
Olá Luisa,
EliminarConcordo plenamente! A pressa é inimiga da perfeição e, quando se fala de literatura ou arte em geral, a pressa não pode mesmo ser critério.
O meu comentário, tal digo no inicio, é a minha opinião para um percurso ideal e não pode ser aplicado em todas as ocasiões. A razão pela qual eu penso que o segundo livro deve ser publicado cerca de 1 ano após o primeiro prende-se com o perigo de o autor cair no esquecimento. A minha publicação é dirigida para novos autores que ainda não são conhecidos nem reconhecidos e, nesse âmbito, é fundamental que a publicação não seja vista como um acto isolado.
Espero ter respondido. Obrigado pelo comentário, é da discussão que nasce a luz! =D
sim, entendi. para quem começa convém continuar a criar, ou seja escrever no caso de um escritor, mas deve ainda assim ter cuidado para não ter muita pressa a editar e nisso uma boa editora sabe ajudar e pode ajudar.
EliminarOlá, gostei muito das dicas! Concordo, iclusivamente com a parte final, pois há muitos autores que só ganham visibilidade com obras posteriores à primeira.
ResponderEliminarUm dia ganho coragem e concretizo o sonho de escrever um livro, contudo, essa será, certamente, a parte mais fácil.
Um beijinho, Liliana
Olá Liliana,
EliminarMuito obrigado pelo comentário =)
Quem sabe não haverá por aí uma editora para ajudar na publicação quando o dia chegar...
O 5º passo é importantíssimo e aconselho todos os novos autores a terem os olhos muito bem abertos: cada editora tem o seu campo de especialização e é importante escolher aquela que melhor se adeque ao género do livro escrito, e não simplesmente escolher uma editora pelo seu nome.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário, vocês melhor que ninguém sabe isto. Se olharmos com atenção, percebemos que as editoras publicam livros muito diferentes entre si. Cada uma está à procura de coisas diferentes e os autores devem jogar esta questão.
EliminarA título de exemplo, alguém que procura emprego não enviará o seu curriculum para uma empresa de contabilidade se a sua formação for de sociologia.
Exatamente! Contudo, infelizmente percebo que muitos novos autores parecem não prestar atenção a este facto e, um pouco por desespero ou impaciência, enviam o seu original a todas as editoras que encontram. Isso não só mostra à editora que o autor não a selecionou por achar que é a mais adequada como também originará várias respostas negativas que apenas desmotivarão o novo escritor.
EliminarMariana