quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

10 dicas (in)falíveis para ser publicado

Recupero hoje uma lista que elaborei há algum tempo atrás com o intuito de divulgar dez dicas que acho fundamentais para qualquer escritor que queira publicar e divulgar os seus escritos.

Quero começar por dizer que estas dicas são apenas conselhos e não podem ser aplicadas universalmente. Ainda assim, penso ser importante partilhar experiências e trocar ideias para que haja mais clareza em todo o processo da edição. Eu sinto o processo desta forma, se alguém o sentir diversamente que partilhe e comente.


Dito isto, como proceder para publicar um livro em Portugal? Vamos por passos:



1) Escrever um original. Obviamente terão de começar pelo início e escrever um livro. Para esta fase, dois conselhos: originalidade e enquadramento. Mais do que uma história fantástica ou um enredo de perder a cabeça, um bom livro tem de refletir o escritor e o seu estilo próprio de escrita, estar enquadrado na sua obra. A não ser que queiram escrever literatura de algibeira e romances infindáveis sobre a mediocridade do nada e a essência do vazio, encontrem o vosso estilo de escrita, desenvolvam-no e expliquem-no. Os leitores gostam de se identificar com o autor e a sua escrita e o editor irá valorizar esse aspeto acima de tudo. Não vale de nada escrever uma ótima história que não passa de uma imitação de outros livros já existentes e acreditem, existem milhares de livros por aí. Um bom escritor é aquele que tem uma personalidade forte e declarada e orienta a sua escrita nesse sentido. Acreditem, esta é a parte mais fácil...



2) Produzir conteúdos. Hoje em dia, todos somos inundados com os mais diversos conteúdos. São milhares e vêm de inúmeras fontes. A expansão das tecnologias de informação alargou o leque de meios que temos para comunicar e para comunicarem connosco. Desde o tradicional outdoor ou a normal revista mensal até aos tablets e redes sociais, os conteúdos produzidos e partilhados são quase infinitos. Este aspeto é extremamente importante. É preciso compreender que os leitores estão constantemente expostos a esta infindável informação e tendem a perder o seu foco e atenção. O autor tem de conseguir controlar esta variável e jogá-la a seu favor. Nos dias que correm, o autor tem de concorrer nesta competição diária por visualizações ou gostos no Facebook. É fundamental criar e manter uma presença on-line com um perfil nas redes sociais, um blogue ou um site. O mais importante é ir produzindo conteúdos que cheguem facilmente e diretamente ao público para que as pessoas não se esqueçam do autor e do seu trabalho.



3) Divulgar o seu trabalho. Quantos livros existem no mundo? Multipliquem por 100 ou até por 1000 e terão a quantidade aproximada de novos escritores, novos originais, novos textos que são produzidos todos os meses. É demasiada informação, demasiada produção. Isto acontece porque escrever um livro não é difícil, difícil é promovê-lo no meio de tantos outros. É fundamental que as pessoas leiam o livro. Em caso contrário, será apenas mais um desses milhares de originais que ficam perdidos algures entre a gaveta e a livraria. Mais uma vez, redes sociais, blogues e sites são ótimas ferramentas mas não são suficientes. Apesar do avanço nas tecnologias, ainda vivemos no mundo real e devemos sempre privilegiar o contacto interpessoal pois os nossos leitores são pessoas e são eles que fazem o nosso sucesso. Sessões de leitura em cafés, livrarias ou bibliotecas são ótimas estratégias.



4) Promover a sua imagem. Vivemos no mundo das marcas, a edição não é diferente. Não basta ser publicado por uma editora de sucesso, proprietária de uma marca consolidada. O autor tem de cultivar uma marca própria e criar interesse em torno da sua pessoa. Só assim se tornará próximo o suficiente dos leitores para que a sua obra seja lida, relida, comentada e emprestada diariamente. Um autor excelente com livros maravilhosos não vale de nada se não tiver uma presença constante e consistente junto dos seus leitores.



5) Pesquisar sobre as editoras nacionais. Só depois de tudo isto estar feito ou pelo menos encaminhado é que o autor deverá procurar uma editora para publicar o seu original. Lembrem-se que as editoras são empresas à procura de lucro, nenhum editor irá publicar o trabalho de um desconhecido. Mostrar trabalho feito e alguma base de seguidores já constituída é meio caminho andado no sentido da publicação. Neste passo, o autor deve selecionar as editoras para as quais irá enviar o original. Para além de ser uma perda de tempo, será também um erro enviar o original para todos os contactos que encontrar. As editoras funcionam através de linhas editoriais, planos estratégicos que guiam as escolhas dos editores. O autor tem aqui um importante trabalho de pesquisa e seleção para encontrar as editoras cuja linha editorial seja adequada ao seu livro.



6) Procurar os contactos diretos do editor ou do assistente. Chegámos à parte complicada! Esta é a fase crucial de todo o processo. Esqueçam a qualidade da escrita ou a brilhante abordagem à narrativa, nada disso importa sem os contactos certos que possam tirar o livro da gaveta. Imaginem uma caixa de correio eletrónico que todos os dias recebe e-mails de novos autores com excelentes originais de 100 ou 200 páginas cada um. Se a isso juntar-mos a deficiente engenharia empresarial das editoras que não está desenhada para dar uma resposta eficaz a esta característica específica deste negócio, temos a receita para que 90% dos novos livros não sejam sequer lidos por um editor. Se querem mesmo publicar um livro, o meu conselho é darem tudo por tudo para encontrar o contacto direto de um editor ou do seu assistente. Fujam dos e-mails gerais!



7) Elaborar uma carta de apresentação e uma sinopse do livro. Livros há muitos e, geralmente, tendem a ser compridos. Um editor tem várias ocupações profissionais para além da leitura de originais e só irá ler aqueles que lhe chamarem a atenção. A melhor maneira para conseguir este feito é através de uma carta de apresentação e uma sinopse do livro. A carta de apresentação deve dar a conhecer o autor de forma breve e focar os aspetos mais relevantes do seu percurso. Não enviem currículos detalhados com todos os cursos e formações que fizeram. A ideia é apresentarem-se, demonstrar que têm valor como escritores e como comunicadores, cativarem o editor... A sinopse deve apresentar o livro, resumindo-o ao essencial e focando a principal linha de pensamento da obra, evitem contar a história do livro ou escrever um resumo do mesmo. É apenas uma apresentação. Estes dois anexos que devem ser enviados com o original são absolutamente fundamentais pois irão apresentar o autor e a obra e determinar se o livro chega sequer a ser avaliado pelo editor.


8) Abordar o editor. Já expliquei aqui, em crónicas anteriores, que o editor é um responsável de uma empresa que procura receitas e lucros. Neste sentido, a abordagem ao editor deve evitar sentimentalismos e objetivos irrealistas. "Vou ser o próximo Saramago!", "Este livro é um Nobel garantido", abordagens deste tipo devem ser evitadas. Deve-se explicar concisamente os objetivos e apresentar resultados preliminares concretos. Um bom editor prezará a consciência da realidade do autor que está a avaliar e premiará projetos consistentes acima de livros ocasionais. O autor deve tentar, sempre que possível, agendar uma reunião pessoal com o editor para que seja mais fácil explicar tudo isto.

9) Apresentar o livro. Imaginemos que conseguiram a tão desejada publicação: o trabalho acabou de começar... Claro que o livro já está publicado mas as cópias não vão voar sozinhas das prateleiras das livrarias. O trabalho do autor ainda não acabou! O marketing das editoras portuguesas é muito mau e insuficiente. Se querem que o vosso livro se torne num best-seller têm de fazer pela vida e levá-lo até ao grande público. Divulgação, conferências, palestras, entrevistas, artigos, comunicados de imprensa, sessões de autógrafos, sessões de leitura, apresentações em bibliotecas, livrarias, feiras do livro... Há muito trabalho a fazer e, aqui, as possibilidades são imensas. Lembrem-se: são as pessoas que leem o vosso livro e que o compram. São as pessoas que criam os escritores de sucesso. Saiam para a rua e falem com essas pessoas.

10) O futuro. Parabéns! Agora são escritores publicados e até já venderam algumas cópias. Desenganem-se, não são ninguém... Ainda ninguém vos conhece, ainda ninguém respeita a vossa opinião, a vossa escrita. Escritores publicados há milhares, escritores lidos e respeitados há meia dúzia. A melhor forma de continuarem a construir a vossa carreira no mundo da escrita é continuarem a escrever, a produzir. O ideal é que o público se vá gradualmente habituando à vossa presença e à vossa escrita. Continuem com o blogue e não desistam das redes sociais. O ideal é conseguir uma crónica ou um espaço qualquer numa revista ou num jornal. Escrever, escrever, escrever. Não deixem passar mais de um ano até lançarem o segundo livro e depois é só encontrarem o vosso ritmo. O mais importante é não caírem no esquecimento..

8 comentários:

  1. Olá,

    estive a ler a tua pagina e não concordo com a parte final. e passo a explicar, um autor jamais deve ter pressa de editar, isso pode e quase sempre prejudica a sua obra. deve existir um espaço entre um e outra edição.

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    1. Olá Luisa,

      Concordo plenamente! A pressa é inimiga da perfeição e, quando se fala de literatura ou arte em geral, a pressa não pode mesmo ser critério.

      O meu comentário, tal digo no inicio, é a minha opinião para um percurso ideal e não pode ser aplicado em todas as ocasiões. A razão pela qual eu penso que o segundo livro deve ser publicado cerca de 1 ano após o primeiro prende-se com o perigo de o autor cair no esquecimento. A minha publicação é dirigida para novos autores que ainda não são conhecidos nem reconhecidos e, nesse âmbito, é fundamental que a publicação não seja vista como um acto isolado.

      Espero ter respondido. Obrigado pelo comentário, é da discussão que nasce a luz! =D

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    2. sim, entendi. para quem começa convém continuar a criar, ou seja escrever no caso de um escritor, mas deve ainda assim ter cuidado para não ter muita pressa a editar e nisso uma boa editora sabe ajudar e pode ajudar.

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  2. Olá, gostei muito das dicas! Concordo, iclusivamente com a parte final, pois há muitos autores que só ganham visibilidade com obras posteriores à primeira.
    Um dia ganho coragem e concretizo o sonho de escrever um livro, contudo, essa será, certamente, a parte mais fácil.
    Um beijinho, Liliana

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    1. Olá Liliana,

      Muito obrigado pelo comentário =)
      Quem sabe não haverá por aí uma editora para ajudar na publicação quando o dia chegar...

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  3. O 5º passo é importantíssimo e aconselho todos os novos autores a terem os olhos muito bem abertos: cada editora tem o seu campo de especialização e é importante escolher aquela que melhor se adeque ao género do livro escrito, e não simplesmente escolher uma editora pelo seu nome.

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    1. Obrigado pelo comentário, vocês melhor que ninguém sabe isto. Se olharmos com atenção, percebemos que as editoras publicam livros muito diferentes entre si. Cada uma está à procura de coisas diferentes e os autores devem jogar esta questão.

      A título de exemplo, alguém que procura emprego não enviará o seu curriculum para uma empresa de contabilidade se a sua formação for de sociologia.

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    2. Exatamente! Contudo, infelizmente percebo que muitos novos autores parecem não prestar atenção a este facto e, um pouco por desespero ou impaciência, enviam o seu original a todas as editoras que encontram. Isso não só mostra à editora que o autor não a selecionou por achar que é a mais adequada como também originará várias respostas negativas que apenas desmotivarão o novo escritor.

      Mariana

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